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02/08/2013ㅤ Publicado às 13:40

Levados pelos novos tempos à condição de internautas, navegadores do ciberespaço, é quase certo que a maioria de nós já recebeu pelo menos uma vez um e-mail com um arquivo de auto-ajuda mostrando o sofrimento de uma lagarta ao sair do seu casulo para transformar-se em uma belíssima borboleta. Em um deles, uma pessoa resolve poupar-lhe o sofrimento cortando parte do casulo facilitando a saída. Depois viu que a borboleta não sobreviveu. O esforço e o sofrimento do animalzinho eram necessários ao seu pleno desenvolvimento até virar uma borboleta saudável. Depois na própria internet revivi aulas ginasiais relembrando que a lagarta para chegar à borboleta, primeiro se transforma em uma coisa meio disforme e estranha chamada pupa, cuja beleza só será entendida no processo miraculoso da metamorfose da qual ela é figura central, feiosa, mas tão indispensável que virou lição universal captada pela sensibilidade de Saint-Exupéry.

Cuiabá vive sua fase de pupa neste processo de transformação urbana, imenso e fortemente concentrado no tempo, trazida pela Copa. A cidade está revirada, transformada em um canteiro de obras, suja pela poeira das construções, cheia de tapumes, placas informativas e desinformativas, máquinas de todos os tamanhos, engarrafamentos, desvios por vias nunca dantes navegadas, mal preparadas ao protagonismo urbano que ora lhes são impostas. Tal como a lagarta, a cidade e seu povo sofrem o desconforto do momento. Um marciano que chegasse sem saber o que está acontecendo e como era a cidade a um par de anos atrás, com certeza praguejaria contra a situação de caos e desarrumação urbanística. Mas, quanto ao cidadão comum, este parece começar a imaginar a borboleta ao final do processo à medida que as obras ganham formas diante de seus olhos. Não mais só tapumes e desvios, mas pilares, pórticos, vigas, lajes tomando jeito de viadutos, pontes e trincheiras inimagináveis, estádios, avenidas, aeroporto. Está difícil, por exemplo, buscar alguém no aeroporto, mas o avanço rápido das obras e a antevisão delas prontas mitigam a irritação. É quase impossível chegar à sede do Cuiabá para comprar uma camisa do nosso campeão que ruma à série B, mas a visão das obras dos viadutos no caminho entusiasmam. A esperança começa a aparecer ao lado da irritação e incredulidade iniciais. Como estará a cidade ano que vem? Será possível? Ficará bonita? Dá tempo? Funcionará?

A Grande Cuiabá, como a lagarta, vive hoje o momento mais sofrido de um processo de transformação física não programado, nem sequer sonhado nas dimensões e intensidade com que acontece. Talvez a maior carga de investimentos públicos e privados concentrados no tempo em uma cidade, proporcionalmente. Podia ter sido menos desgastante se resultasse de um planejamento urbanístico, técnico e contínuo. Não foi. Aliás, o planejamento da cidade institucionalizado em órgão específico precisa ser retomado. Quem dera a lei estruturando a região metropolitana sancionada pelo governador no último dia 22 seja um passo nesse rumo. Haverá desta vez a indispensável compreensão política dos governantes quanto ao compartilhamento das autonomias nos assuntos de interesse comum? Tomara. A ação técnica nesses assuntos dependerá das decisões políticas conjuntas dos governantes. Sem elas continuarão prejudicadas as soluções que a cidade-metrópole exige. A mobilidade urbana e seu VLT é um exemplo. Que a esperança da borboleta e da cidade às vésperas da transformação nos ajude a suportar as bem vindas pupas e lagartas atuais e as que ainda estão por vir. E que a cidade e sua cidadania resultem mais fortes, ativas e participantes na sua construção e na luta por tudo a que tem direito.

*JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é professor universitário

Fonte: Diário de Cuiabá

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