Ícone SICCAU
SICCAU Serviços Online

22/04/2013ㅤ Publicado às 17:01

Foto: Jose Goitia / The New York Times


 

Victoria Burnett

  Kathleen Murphy Skolnik ficou impressionada quando, em uma manhã recente, olhou para as escadarias de um prédio de apartamentos construído em 1939 no centro da cidade e apontou para o padrão em ziguezague das ferragens, para o mármore rosa dos degraus e para uma alcova simples na escada coroada com um arco peraltado.

 

  – É tão lindo. E está tão degradado – afirmou Skolnik, historiadora da arquitetura que vive em Chicago.

 

As palavras de Skolnik servem de lema extraoficial para os prédios ricos e diversificados que fazem de Cuba um dos centros mais importantes e negligenciados de arquitetura art déco do mundo, segundo especialistas.

 

Confira na galeria mais imagens de prédios históricos de Havana

 

  Quando cerca de 250 especialistas cubanos e estrangeiros se reuniram recentemente em Havana para o congresso mundial de art déco, esperavam que o evento pudesse levar as pessoas a reconhecerem o patrimônio art déco da ilha, além da necessidade urgente de preservá-lo.

 

  –Parte de nosso objetivo é fazer barulho. Se nós, cubanos, não apreciamos o valor desses prédios, como podemos esperar que pessoas de outros países o façam? – afirmou Gustavo Lopez Gonzalez, vice-diretor do Museu Nacional de Artes Decorativas e um dos organizadores do evento.

 

  Havana é famosa por sua elegância degradada e mais de um milhão de turistas passeiam pelos prédios coloniais da Velha Havana todos os anos, muitos dos quais construídos entre os séculos XVI e XVIII e cuidadosamente restaurados nos últimos 30 anos.

 

Mas Havana, assim como muitas das cidades mais provincianas da ilha, está salpicada de casas, prédios de apartamentos, cinemas, teatros, hospitais e prédios de escritórios em estilos art déco, que exibem desde linhas verticais de arranha-céus até o estilo moderno, com linhas horizontais e cantos curvos.

 

  Esses prédios históricos não são tão grandiosos quando o Edifício Chrysler, em Nova York, e não existe nenhum local que tenha incorporado mais o estilo que Miami Beach, mas os fãs afirmam que há uma riqueza e uma diversidade incomuns no local. Muitos desses prédios continuam em pé – embora mal cuidados – após 50 anos de governo comunista.

 

  No extremo da Velha Havana, por exemplo, há o ornamentado Edifício Bacardi, construído em 1930 em estilo francês, com pequenos zigurates e fachada decorada com padrões de ziguezague em folhas de ouro, bastões de bronze e o logo do rum Bacardi.

 

No bulevar principal do artístico bairro de Vedado, há uma mansão construída em 1927 por um famoso casal da alta sociedade da época, Catalina Lasa e Juan Pedro Baro. Seu interior apresenta janelas de vidro Lalique, decoradas com detalhes em forma de concha e raios de sol, além de uma escadaria com corrimãos folheados a prata, iluminados por grandes janelas de cristal bacará colorido.

 

  Mais a oeste, em uma praça monumental, encontra-se o imponente Hospital Maternidade dos Trabalhadores, construído em 1939 com o formato de um par de trompas de falópio.

 

  A ausência de construções novas nos últimos 50 anos salvou boa parte dos prédios históricos de Cuba da ganância desenfreada das construtoras. Contudo, a falta de recursos, a umidade elevada, o ar salgado e a impossibilidade de compra e venda de casas entre os cubanos até o ano passado fez com que muito desses prédios ficassem em estado lastimável. Regras fracas e o excesso de pessoas nas casas levaram a alterações malfeitas ou de mau gosto em muitas casas que deveriam ser de interesse histórico, segundo arquitetos.

 

  Muitos proprietários cubanos de casas em estilo art déco têm dificuldades em conseguir dinheiro ou materiais de construção para fazer a manutenção correta.

 

  Regla Maria Gonzalez gastou cerca de US$ 6 mil para restaurar seu gracioso apartamento no Edifício Lopez Serrano, um marco histórico de 1932, com relevos e uma torre ao fundo. Ela consertou as janelas e os moldes de gesso, incluindo o medalhão do teto em formato de caracol. Mas algumas janelas não podem mais ser consertadas, o que levou Gonzalez, que recebe uma aposentadoria de cerca de 10 dólares por mês, a vender seu automóvel Moskovich russo no ano passado por alguns milhares de dólares para trocá-las.

 

  O resto do prédio não recebeu tanto amor. O design em forma de raios de sol no chão de mármore do lobby continua intacto, com o relevo de uma figura que lembra Mercúrio com seu capacete alado, feito pelo artista cubano Enrique Garcia Cabrera.

 

  Mas a fachada perdeu parte do reboque, os pilares de apoio estão ruindo e, há um ano, funcionários da manutenção que estavam substituindo os elevadores arrancaram as portas originais _ muito embora o edifício seja protegido pelo Conselho Nacional do Patrimônio Cultural. Especialistas afirmam que a estrutura poderia desmoronar em uma década, caso não receba grandes reparos.

 

  –É uma vergonha que um edifício art déco histórico possa desmoronar por falta de dinheiro –, afirmou Sara Vega, filha de Gonzalez, que vive com a mãe e está estudando a história do prédio.

 

  Também existem casos positivos. Mitzi March Mogul, ex-presidente da Sociedade Art Déco de Los Angeles, lembra que o Teatro Sierra Maestra, construído nos anos 1930 no bairro de Lutgardita, nos arredores de Havana, estava um “desastre” quando o visitou há alguns anos.

 

  Ela e outros 150 especialistas em art déco estrangeiros – alguns vestidos com roupas dos anos 1930 – admiraram o teatro restaurado, com o palco cercado de altares em estilo maia, adornados com serpentes e cabeças de tigre estilizadas.

 

  Além disso, o Edifício Bacardi foi restaurado a sua antiga glória nos últimos anos pela secretaria de história da prefeitura, que mantem e administra boa parte da Velha Havana.

 

  Juan Garcia, historiador da arquitetura cubana, afirmou que a prática da arquitetura foi deixada de lado pelo governo comunista, em favor do estilo pragmático de construção adotado pela antiga União Soviética.

 

  – Já não existem mais escritórios de arquitetura privados, há pouco espaço dedicado à arquitetura na imprensa oficial e muitos cubanos que cresceram sob o regime de Fidel Castro não sabem de seu patrimônio arquitetônico – afirmou.

 

  Segundo ele, um bom primeiro passo seria criar um registro dos prédios em estilo art déco em Cuba, com o objetivo de pressionar o governo a tombá-los.

 

  O entusiasta cubano-americano da art déco Geo Darder defendeu com ardor que o congresso bienal mundial fosse realizado em Cuba (apesar da resistência de alguns membros dos Estados Unidos que são contrários aos laços com a ilha) e afirmou que esperava que o encontro pudesse levar a mais trocas entre os especialistas em arquitetura de Cuba e dos Estados Unidos, para que o novo mercado cubano passasse a gerar investimentos.

 

  – Tudo vai começar quando os cubanos perceberem que essas casas valem alguma coisa – e que justamente o fato de serem art déco é que lhes dá valor – finaliza.

 

Fonte: Zero Hora

DEIXE UM COMENTÁRIO

Os comentários estão desativados.

Destaques

18/12/2024

Balanço de fiscalização – Relatório de novembro de 2024

Destaques

18/12/2024

Fórum de Presidentes realiza última reunião ordinária do ano em Brasília

Destaques

17/12/2024

CAU/MT recebe certificados de ouro e bronze pelo “Prêmio Colunistas Centro-Leste 2023”

Destaques

17/12/2024

Verificação de autenticidade do documento: Como saber se um RRT é verdadeiro?