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16/07/2013ㅤ Publicado às 17:40

Courtesy of differentenergy via YouTube, via Business Insider

O mundo da arquitetura se inquietou com a notícia de uma empresa de construção civil chinesa que planeja construir o edifício mais alto do mundo – e que o fará em apenas 90 dias utilizando prioritariamente técnicas de pré-fabricação.

A construção da torre de 838 metros de altura na cidade de Changsha, chamada Sky City One, estava prevista para começar em junho.

Após o projeto ter sido anunciado, conversamos com Christian Sottile, Diretor da Escola das Artes Construtivas da Savannah College of Art and Design, que nos apresentou sua visão  do por que o projeto é um retrocesso para a vivência de arquitetura e urbanismo.

Mas nem todo mundo é tão cético frente ao Sky City One. Stan Klemanowicz, arquiteto e urbanista da Project Development Associates, de Los Angeles, contatou nossa equipe para esclarecer porque o projeto é, na realidade, algo revolucionário. Ele nos permitiu publicar sua resposta à crítica do Mr. Sottile.

 CONTRA: Christian Sottile

Courtesy of SCAD, via Business Insider.

A pré fabricação revolucionou a indústria da construção civil – e aplicada agora como estratégia para edifícios altos sob as condições certas é algo brilhante. A ironia é que, se você encarar esta situação do ponto de vista urbano, é uma insensatez na melhor das hipóteses, e na pior delas, uma loucura.

A proposição que a cidade pode ser contida dentro de um edifício é artificial e devastadora para o espírito humano. Esse projeto, no entanto, poderia não ser o primeiro a propor tal fim. Segue uma longa e audaciosa tradição arquitetônica que busca repensar a cidade. No fim, a cidade sempre vence. Estou falando da cidade evoluída ao longo de 7.000 anos de história humana transcultural – cidades que honram o ser humano, assim como a arte, o artesanato e a cultura.

Podemos lembrar o movimento italiano Super Studio nos anos 60 propondo novas formas radicais para a cidade. Muitos de seus membros fundadores posteriormente rejeitaram suas propostas em favor de ideias mais universais, incorporadas nas cidades tradicionais. Dentre eles, Adolfo Natalini uma vez me disse que “comecei minha carreira como um piromaníaco e a encerrei como um bombeiro.”

Numa era de cega aderência às maravilhas da tecnolgia, somos todos frequentemente seduzidos a crer que qualquer resultado de suas aplicações avançarão nosso bem estar coletivo. Podemos lembrar que enquanto a física nuclear é uma maravilha das descobertas científicas, ela pode ser utilizada tanto para criar energia limpa, quanto uma arma de destruição em massa. No caso de Sky City One, a aplicação deste feito tecnológico, mesmo que executado com sucesso, em uma última análise, é uma perda.

Se for construído em três meses, ou não, ainda é uma perda. […]

O processo de fazer edifícos como atividade local enriquece a economia dos lugares, usufrui dos recursos naturais e desenvolve habilidades locais. A eficiência ganhada na pré-fabricação modular em fábricas vem juntamente com o risco de empobrecer a singularidade, identidade e sabedorias regionais que evoluem em diferentes lugares. Isso não é ignorar que certos elementos de edifícios terão sua fonte ou serão fabricados em outro lugar, mas que a maior parte do ato de se construir deveria ser um setor da economia local. Quanto mais da atividade da construção civil acontecer em locais distantes, mais as localidades serão privadas de sua própria experiência, identidade e auto-determinação. […]

A padronização do edifício Sky City One, a repetição de elementos estruturais e, proporcionalmente, a grande área construída representam uma economia considerável nos custos da obra. Além disso, a eficiência decorrente da pré-fabricação e a limitação do dispendioso tempo de construção in loco reduzem os custos totais da construção.

A ironia de construir de maneira rápida e barata é que nós convivemos com nossos edifícios por décadas, mesmo séculos. Construções que permitem uso a longo prazo, recebem restauração e re-investimento. Quando se trata de edifícios super altos, construir rapidamente e de forma barata pode ser uma solução coerente. Digo isso porque esses edifícios, em geral, não possuem uma vida útil muito longa. As tecnologias envolvidas são tão específicas para um momento característico e um processo manufaturado que eles, após algum tempo, se mostram inviáveis de se restaurar. Podem ser considerados como edifícios de uso único.

 A FAVOR: Stan Klemanowicz

Courtesy of Stan Klemanowicz, via Business Insider.

Mr. Sottile perde um ponto importante no desenho e na construção deste projeto. Ela revoluciona o processo de uma forma quase nunca antes vista na indústria da construção.

Pode-se argumentar que a padronização de peças e sistemas de construção da arquitetura moderna era semelhante, porém, isso esconde uma compreensão superficial. O que vemos na China hoje é muito diferente! É uma abordagem revolucionária.

Na Sky City One vemos uma padronização de componentes e detalhes, a produção externa de componentes das maiores dimensões possíveis, e uma montagem organizada e bem sincronizadas in loco nunca antes vista nem experimentada.

A construção pode ser um dos setores industriais mais lentos. Continuamos a assentar tijolos um por um e a instalar painéis individuais de drywall in loco. Por que isto não pode, bem como os demais componentes de construção civil, ser pré fabricado e montado de maneira a ter o máximo de eficiência?

A pré-fabricação de componentes da construção existe há muitos anos, incluindo casas fabricadas, obras inteiras em pré-moldados e mesmo construções modulares. Mas não houve tentativas dessa escala com limitações de tempo semelhantes.

Se a tentativa for bem sucedida ou não, outros tentarão, e tentarão novamente. Novos recordes  para tipos de construção, a complexidade de projeto e prazos com restrições mais severas serão alcançados. O trabalho está sendo retirado do local da obra e está se dirigindo para dentro da fábrica. Projetos exigirão uma força de trabalho diferente e, provavelmente, menor, para benefício dos proprietários e usuários.

As uniões de trabalhadores e sindicatos da construção, em geral, sofrerão. Está por vir uma real batalha de unhas e dentes.

Revendo o que foi impingido na paisagem urbana chinesa por “arquitetos estrelas” de renome nos últimos anos, não se pode criticar este projeto, que é verdadeiramente nativo, chinês. Quando estiver concluído, será um sucesso irrepreensível, independentemente do conceito do Sky City One realmente funcionar ou não.

Fonte: Archdaily Brasil

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