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20/07/2016ㅤ Publicado às 13:13

Na arquitetura “desconstrução” é o método de projetar a partir da desmontagem de um objeto para depois remontá-lo melhor do que antes, questionando a existência de cada peça, indagando sempre se não poderia ser diferente antes de reposicioná-la. Embora leigo em Política permaneço o animal político aristotélico vivendo seus benefícios e malefícios, tendo que conviver com ela e suas inovações, e uma dessas foi a absorção da expressão “desconstrução”. Só que seu uso na política não é para reconstruir melhor, mas para destruir.

Observei a expressão pela primeira vez nas últimas eleições presidenciais com a candidatura nascida forte de Marina Silva, mas que logo esboroou após sofrer de seus adversários um competente processo de “desconstrução política”. Matutando sobre o assunto indaguei se essa prática não seria antiga apenas travestida com um novo nome. Lembro de Dutra, cuiabano, eleito presidente pelo antigo PSD, mas derrotado em sua terra onde a UDN era muito forte, tão forte que concluiu sua vitória local apagando a figura do ilustre presidente da memória da maioria dos cuiabanos a ponto de até hoje Cuiabá não ter uma avenida de destaque denominada “Presidente Dutra”, mas tem a “Rua Brigadeiro Eduardo Gomes” em homenagem ao derrotado por ele no país. Ainda entre nós, tem a figura do grande líder empresarial e político do século passado Totó Paes que também “foi sumido” de nossa história.

Mas é nas obras onde mais se pode constatar o cruel maquiavelismo chamado hoje de “desconstrução”. Desde o tempo dos meus avós é muito comum as pessoas reclamarem dos governantes abandonarem as obras de seus antecessores. Por exemplo, o projeto do complexo do CPA foi descontinuado deixando inclusive sua importante Avenida inconclusa a 700 metros de se ligar à Avenida da Prainha. Na mesma época tivemos o belíssimo Projeto Cura até hoje semiabandonado. As ruínas daquele que seria o Hospital Central do Estado também estão aí, eloquentes.

Para encurtar lembro que o governador Dante talvez tenha sido o que teve mais projetos desconstruídos ou abandonados: a ferrovia transoceânica da FERRONORTE que depois de trazida por ele até Mato Grosso ficou parada por muito tempo e enfim levada até Rondonópolis e ali trocada pela transoceânica da FICO, embora esta seja no mínimo 640 Km mais longa; o complexo Gasoduto-Termelétrica de U$ 1,0 bilhão de dólares, do qual ficou a Termelétrica, já que o gasoduto foi completamente desmoralizado, quando deveria ser instrumento para a verticalização da economia mato-grossense tendo como base a Baixada-Cuiabana; a APM de Manso, que a grande maioria de nossas autoridades sequer sabe que APM significa Aproveitamento Múltiplo de Manso, envolvendo segurança contra inundações urbanas, regularização da vazão do rio, irrigação rural e abastecimento de água para toda a Baixada, piscicultura, turismo, além da geração de energia; o Porto-Seco cujo objetivo não era só agilizar as exportações mas criar um parque para a montagem de produtos eletrônicos para exportação e fazer de Cuiabá um entreposto importador para distribuição no Brasil; e por fim o Aeroporto cuja internacionalização legal e o inicio de sua ampliação foram conseguidas por ele prevendo um hub aeroviário de abrangência continental, mas não concluídas até hoje, mesmo com a Copa. Tudo abandonado, retardado ou esquecido, para esquecê-lo. Azar do povo.

Idos 1 ano e meio de um novo governo estadual, as obras da Copa também parecem estar sendo desconstruídas. Que os atuais governantes chegados ao poder nas asas da confiança e das boas perspectivas, e ainda com muito crédito, não deixem que antigas práticas desconstruam o próprio governo e a esperança que trouxeram ao povo mato-grossense.

JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é conselheiro do CAU/MT e professor universitário. Contato: joseantoniols2@gmail.com

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